O tráfico se instaurou na África, pela ação combinada de guerras e do comércio, entre as regiões saqueadas e aquelas que, situada nas zonas de influência dos mercados, compravam e exploravam escravos, alimentando uma economia continental em que se trocavam produtos e pessoas. A economia comercial se desenvolveu inteiramente em torno do mercado, que era a condição de existência daquilo que podemos chamar de escravidão mercantil, pois era através dele que os cativos chegavam às mãos dos escravagistas, e também que se escoava o produto do trabalho escravo. Não é possível determinar o número exato de escravos que foram comercializados, embora alguns dados de exportação forneçam, alguma indicação de escala do comércio interno.
As trocas se faziam muito largamente em produtos, que não eram todos intercambiáveis entre si, no entanto, a economia da África utilizava também várias moedas correntes, como a concha caurim. Utilizadas em grande parte da África Ocidental, as conchas eram transportadas para o interior do continente para comprar toda espécie de mercadorias. Sua importância era tamanha que os portugueses chegaram a se apoderar de terras onde o caurim era comum e inundar o comércio com as conchas-moeda apanhadas.
acima: conchas caurim comparadas a uma moeda em primeiro plano. ao lado: Manilha de bronze de fabricação britânica (c.1800). Em certas regiões da costa atlântica da África, eram usadas como braceletes e circulavam como dinheiro.
www.moneymuseum.com/frontend/coins/search/form.jsp
Os comerciantes compravam as capturas dos aristocratas, as acondicionavam, transportavam e exportavam, ao fazerem isso contribuíam para expansão do processo escravista, abrindo mercados a sua passagem por toda a parte em que a produção local era capaz de oferecer uma contrapartida às suas mercadorias, e, entre essas, os cativos. Os chamados pumbeiros, africanos ou mestiços que faziam o trajeto da costa às fortalezas e povoados do interior, eram responsáveis pela ‘captação’ dos escravos, usando como moeda de troca principalmente a peça de tecido, daí a expressão que designa o equivalente a um escravo do sexo masculino adulto e sadio: peça de Índias.
Os escravos eram remetidos à costa dos principais mercados exploradores e trocados por tecidos, aguardente, armas de fogo e metais: barras de ferro, moedas de prata, manilhas de bronze. Enquanto os escravos eram o principal item de exportação em algumas regiões da África entre 1600 e 1800, em outros lugares eles ficavam atrás do ouro e de outras mercadorias. O Vale do rio Zambeze, a Etiópia, o alto Nilo, a Costa do Ouro e a Senegâmbia eram as áreas mais afortunadas, pois o ouro estava facilmente acessível. Especiarias, perfume, marfim, couros e peles, cera de abelhas e goma arábica também eram importantes itens de comércio, no entanto, para regiões como a Costa dos Escravos, a baía de Biafra e a África Centro-Ocidental, os escravos eram quase o único item de exportação.
SAIBA MAIS:
LOVEJOY, Paul E. A escravidão na Africa : uma historia de suas transformações.Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 2002.
MEILLASOUX, Claude. Antropologia da escravidão : o ventre de ferro e dinheiro. Rio de Janeiro : J. Zahar, 1995
KLEIN, Herbert S. O trafico de escravos no Atlantico. Ribeirão Preto, SP : FUNPEC, 2004.
PEREIRA, Adriano. Economia e sociedade em Angola na epoca da Rainha Jinga : (seculo XVII). Lisboa : Estampa, 1990.
Nenhum comentário:
Postar um comentário