terça-feira, 24 de novembro de 2009

* Estados da África Central

A região centro-ocidental da África é habitada por povos de língua Banto ali instalados desde o século X. Esse grupo lingüístico dividiu-se em numerosas etnias que se fixaram junto aos grandes rios na bacia do rio Zaire e gradualmente originaram pequenos estados e confederações fundamentados na linhagem, isso é, baseados no parentesco ou incorporação ritual de membros. Esses estados desenvolveram comércio de marfim, tecidos, cerâmica, cobre, e outros minerais em uma extensa rede que incluía também escravos de reinos rivais, mesmo antes da chegada dos portugueses no Congo em 1483.

Esse primeiro contato no século XV revelou a possibilidade de obter na África mercadorias valorizadas – principalmente os escravos - mas considerar a presença portuguesa no Congo do século XVI como uma ‘colônia’ seria equivocado: não se instala administração portuguesa ali, o manicongo continua a governar como chefe de um Estado independente, que adota o cristianismo e é declarado vassalo português. Um território para estabelecimento português só será cedido, em troca de ajuda militar, em 1576, permitindo maior independência dos negociadores portugueses em relação ao poder do Congo. É a partir daí que tem início o período de alianças e guerras que se estenderá ao longo do século XVII. Para compreender esses acontecimentos, vejamos um pouco sobre os estados na região Congo-Angola a partir de 1620:


             www.historycooperative.org/journals/wm/60.2/images/thornton_figure1b.gif

Congo – Reino bakongo de maior extensão na região. Governado pelo mani de Mbanza Kongo (ou rei de São Salvador do Congo, para os portugueses), adotara o cristianismo no século XVI e estabelecera relações diplomáticas com Portugal. Algumas das suas províncias, como Soyo e Bamba, constantemente reclamavam independência.
Loango – Estado ao longo da costa, logo ao norte do rio Zaire e do reino do Congo. Possuía numerosos Estados subordinados e tributários.
Dongo – Reino ambundo ao longo do rio Cuanza. Em 1624 uma guerra de sucessão ali resultou na expulsão da rainha Jinga e transformou o reino em vassalo nominal dos portugueses. É anexado pelos portugueses apenas em 1672.
Matamba – Jinga e seus partidários conquistam esse reino a nordeste do Dongo em 1631 e desde então tiveram grande participação nos conflitos no interior até a metade do século XVII.
Estados Dembos – pequenos estados e confederações na fronteira do Congo, tributários de reinos maiores como Congo, Dongo, Matamba ou dos portugueses e frequentemente reivindicados por todos eles.
Kasanje – Estado fundado por um chefe imbangala ao sul de Matamba, contra quem estava em constante conflito.
Angola – Colônia portuguesa estabelecida com a fundação de Luanda. Ficava ao sul do Congo e leste do Dongo, sobre o qual foi se expandindo ao longo do século XVII.
Há ainda os chamados Jagas (imbangalas), grupos nômades de guerreiros sem linhagem que no século XVI invadiram o Congo e se espalharam por toda a região, participando nas guerras do século seguinte como mercenários tanto para portugueses como para os reinos africanos.

-- Veja a região no mapa de 1754 do cartógrafo francês Jacques Nicolas Bellin (1703-1772). Informações sobre esse documento nos comentários abaixo.

SAIBA MAIS:
Silva, A. da Costa A manilha e o libambo. A África e a escravidão de 1500 a 1700. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/Fundação Biblioteca Nacional, 2002.
Thornton, J. K. A África e os africanos na formação do mundo atlântico (1400-1800). Rio de Janeiro, Campus/Elsivier, 2004.

Um comentário:

  1. Na idade moderna a cartografia era uma ocupação com fins estratégicos e militares.Jacques Bellin tornou-se cartógrafo chefe da marinha francesa aos dezoito anos. Esse mapa ("Carta dos reinos de Congo, Angola e Benguela, com os países vizinhos"), embora tardio, dá informações sobre Estados que na verdade existiram na África Central um século antes. O Reino do Dongo, que não existia mais em 1754, por exemplo, ainda é retratado. Isso se explica porque os cartógrafos frequentemente reproduziam mapas e cartas de navegação anteriores nos seus trabalhos.Pode-se observar também algumas transformnações políticas, como a região do Soyo (Sogno, no mapa) que aparece separada do Reino do Congo.[fonte e informações técnicas para este e outros mapas: University of Florida - George A. Smathers Libraries (http://web.uflib.ufl.edu/maps/MAPAFRICA-D.HTML)]

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